Por United Voices of the World

Trabalhadores da limpeza terceirizados organizados no sindicato United Voices of the World (UVW) estão cruzando os braços em protesto por melhores salários e contra condições de trabalho injustas em três dos empregadores mais ricos do Reino Unido.

As greves simultâneas acontecerão em Londres no Ministério da Justiça, na sede do Health Care America e nas Câmaras Municipais de Kensignton e Chelsea. Elas estão marcadas para os dias 7, 8 e 9 de agosto – terça, quarta e quinta.

Os trabalhadores da limpeza são, em sua maioria, falantes de português e espanhol. São imigrantes da América Latina e da África, originários de países como Colômbia, Brasil, Equador, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.

O trabalhador em greve Luis, do Ministério da Justiça, afirma: “Apesar de recebermos um salário mínimo, a empresa ainda tenta fazer a gente trabalhar cada vez mais, cumprir cada vez mais funções e limpar cada vez mais. A empresa não manda ninguém no lugar dos trabalhadores que estão doentes ou ausentes. Estamos entrando em greve porque eles não nos ouvem e não nos tratam com respeito. É por isso que chamamos esse lugar de Ministério da InJustiça”.

Os trabalhadores da limpeza do Ministério da Justiça trabalham sob o contrato da OCS em três prédios do Ministério, incluindo aí a Sede do Ministério em Petit France. A votação para a greve teve uma participação de 100% dos trabalhadores e 100% dos que votaram foram favoráveis ao movimento paredista.

Membros do grupo UVW, que são empregados na empresa Compass for Health Care America, são responsáveis pela limpeza de oito hospitais e centros de antedimento como The Shard, o Hospital de Cancer Guys e a Clínica de Harley Street. Health Care America é a maior empresa de saúde privada do mundo.

Em greve, Mercedes, uma trabalhadora da limpeza na Health Care America, declara: “Não estamos exigindo apenas salários justos, também precisamos de vacinas básicas, como as vacinas para hepatite B e tétano, que essa empresa está se negando a oferecer – apesar de nós da limpeza entrarmos em contato cotidianamente com fluídos corporais como sangue dos pacientes. Estamos falando de hospitais de luxo aqui, por que não podemos ter a proteção que precisamos”?

Membros da UVW limpam a Câmara Municipal de Kensington e Chelsea. Esta é uma das mais emblemáticas sedes públicas e administrativas do mais rico – e possivelmente mais controverso – conselho local do Reino Unido: o Borough Real de Kensignton e Chelsea, região do desastre da Torre Greenfell, que poderia ter sido evitado, e que matou 72 pessoas em 14 de junho de 2017. Os trabalhadores da limpeza dessa Câmara trabalham para a gigante global dos ramos serviços Amey.

Atualmente, trabalhadores envolvidos nesses três movimentos compartilham três reclamações e reivindicações:

1) Um regime de pagamento das ausências por doenças relacionadas ao trabalho

As empresas Amey, OCS e Compass não têm um regime de pagamento para ausências por doenças causadas pelo trabalho. Isso significa que os trabalhadores dependem do Pagamento Estatutário por Doença, SSP [na sigla em inglês] que não paga pelos primeiros 3 dias da doença. A partir do terceiro dia os trabalhadores recebem apenas £18 por dia. Isso significa que os trabalhadores estão sendo forçados a ir ao trabalho mesmo doentes pra conseguir arcar com seus custos de vida – por exemplo, os caríssimos aluguéis na capital. A UVW afirma que os trabalhadores estão tendo que escolher entre ter saúde e ter um lugar pra morar.

2) Paridade de direitos e condições com os empregados diretos

A segunda reclamação e reivindicação da greve é a igualdade entre o pessoal terceirizado e os contratos diretos em termos de direito a feriados, carga horária e pagamento por hora-extra. A UVW alega que uma força de trabalho dividida em duas ‘castas’ leva a redução geral dos salários, uma corrida ao fundo do poço e ao agravamento da exploração.

3) Pagamento do London Living Wage (salário mínimo de Londres) com aumentos anuais garantidos

O Salário Mínimo de Londres [London Living Wage] é atualmente de £10.20/hora – um contraste forte com o Salário Mínimo Nacional [National Minimum Wage], que mudou de nome recentemente para National Living Wage pelo Governo Conservador em 2016, e que é de apenas £7.83/hora.

Trabalhador da Câmara de Kensignton e Chelsa, Maurício afirma que: “É realmente difícil sobreviver em Londres, você tem que pensar sobre o que você pode e não pode comprar, qual conta pode pagar, é muito difícil. Eu queria morar perto do meu trabalho mas é impossível pra mim. Eu moro em um quarto de um apartamento com outra família, aqui é assim”.

É a primeira vez que o sindicato organiza três greves simultâneas. Se elas forem bem sucedidas, estas greves têm o potencial de melhorar os termos e condições de milhares de trabalhadores – não apenas os que trabalham nesses 13 locais de greve, mas além.

Uma vitória no Ministério da Justiça poderia levar a um aumento de 25% para mais de mil empregados terceirizados que estão sob um contrato unificado – antes, eles trabalhavam para 12 empregadores diferentes. Também poderia levar outros departamentos do governo a concordar em pagar o salário mínimo de Londres e pode levar os trabalhadores da Health Care America a ganhar confiança pra também lutarem por um salário digno.

A United Voices of the World, um sindicato independente formado em 2014 e que não é filiado à Trade Union Congress (TUC), tem conseguido ganhar demandas relacionadas ao salário mínimo, pagamento de ausências por motivo de doença, pagamento de feriados e um fim à terceirização da limpeza em Londres em lugares como os escritórios do jornal the Daily Mail, nos escritórios da Sothebys e na faculdade London School of Economics – lá, os trabalhadores da limpeza recebem o salário mínimo e têm paridade com os professores no que diz respeito à ausência por motivo de doença e pagamento dos feriados – um precedente importante na história da Educação Superior do Reino Unido.

Em 2011, os conselhos de Westminsters, Hammersmith e Fullhman se juntaram à Câmara de Kensington and Chelsea em um acordo “Tri-Câmara” de compartilhar um único contrato de terceirização até 2013. A UVW acredita que uma vitória no Conselho de Kensington e Chelsa poderia levar os trabalhadores dessas outras Câmaras a também receberem o salário mínimo vigente em Londres.

Você pode contribuir para o fundo de greve desse movimento aqui.

Traduzido e adaptado pelo coletivo Passa Palavra a partir do artigo originalmente publicado pelo site Libcom.

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